UFBA - IHAC - Oficina
preparatória do Corpocidade 2012
Jogo de Cintura e Uso
do Espaço em Salvador
Profs. Francisco Antônio Zorzo e Cristiano Figueiró
A oficina pretende desenvolver atividades práticas e
teóricas relativas ao tema das improvisações corporais e do jogo de cintura no
uso do espaço urbano. Pensar a vida urbana através do jogo de cintura vai no
sentido de elaborar material preparatório para as oficinas do Corpocidade, que
se darão em 23 e 24 de abril de 2012.
O objetivo é observar, a partir de certas situações
encontradas no cotidiano da cidade, como se produz o jogo de cintura. Por
ocasião do Corpocidade (www.corpocidade.dan.ufba.br) parece muito acertado
entrar na discussão dos modos com que a população enfrenta os problemas
urbanos. As práticas corporais podem desobedecer ao edifício de normas e regras
socialmente reconhecidos, compondo procedimentos criativos que se infiltram no
conjunto normativo.
Na metrópole contemporânea, precisamos inventar
procedimentos corporais para sobreviver às mais desfavoráveis relações de força,
sabendo-se que nem todas podem ser enfrentadas diretamente. Enquanto o poder se
organiza e se exerce no cotidiano a partir de inúmeros pontos, de relações assimétricas
e comandos, os procedimentos criativos (ZORZO, 2007) são acontecimentos da
linguagem que proporcionam saídas e resistências ao sistema normativo (Deleuze, 1997, p. 21).
Pode-se tomar um exemplo de procedimento criativo presente
na arte brasileira contemporânea, que é a ginga (JACQUES, 2003). A capoeira introduz
uma diferença cultural, com a qual o corpo se abre para contornar os axiomas e
as pressões do sistema (SODRÉ, 1983). O melhor desse exemplo é que proporciona
um modo de sociabilizar o conhecimento (mão dupla comunidade-grupo), pois o
desejo dos integrantes da oficina é o maior engenho a ser mobilizado nas
atividades. O jogo de cintura é
empregado em quase todas as interações sociais. O sujeito conta com formas
culturais que fornecem apoio para os enfrentamentos, movimentos e as fugas
cotidianas, tais como a capoeira, o samba, o futebol, os mitos e narrativas,
usos alternativos do meio computacional, o jogo das trocas ...
As práticas
corporais, tal como no exemplo, formam um corpus de saber que é identificável
em alguns lugares, em outros bem menos. Elas não formam um algoritmo perfeito e
completo. Seus efeitos sobre o cidadão como formas de sobrevivência são os mais
variáveis. Elas são algo arisco e sutil, que não se entrega facilmente ao olhar
do outro, que constitui um sistema de gozo muitas vezes inédito. São pequenas
soluções, terápicas ou traumáticas, que por sua vez desenvolvem jogos leves ou
tensos, brincadeiras singelas ou pesadas, a depender do caso, com que se
consegue gozar por mecanismos muitas vezes desconhecidos.
Do desafio que está lançado na oficina, a solução para a
questão “cadê o jogo de cintura?” precisa emergir da interação dos
participantes. Por coerência com a proposta, desde o inicio, deveremos atuar
com muita ginga e atenção relacional na hora de formular o método e encarar o
problema.
Com procedimentos artísticos, pretendemos pesquisar
movimentos e desejos que podem transgredir as formas mecânicas da realidade
ordinária (ANDRADE, 2008). Podemos aperfeiçoar procedimentos do jogo da vida e
levá-los a outros campos. Por exemplo: Contar com a proliferação dos hackers,
já que a vida cotidiana está associada com o uso dos meios virtuais. A
tecnologia ficou mais sofisticada e complicada, mas a técnica, com o devido
jogo de cintura, ainda permite que se possa hackear, ou seja desenvolver usos
novos empregos da informática e criar programas alternativos de computação.
A troca de ideias passa a ser o principal motivo da oficina. Além do humor de falar de experiências e de trocar
narrativas, somam-se a performance e o
jogo. Quer dizer, no caso do Corpocidade, o procedimento deve ser explicitado no
corpo de cada jogador e não apenas no modo verbal e discursivo. Mas cadê a
linguagem adequada? É preciso encontrar o procedimento com que vamos seguir
adiante e resistir através das nossas próprias descobertas.
Referências
Andrade, Antônio Luis M. Escritos sobre Arte.
Salvador: Cispoesia, 2008.
Deleuze, Gilles. Crítica
e Clínica. São Paulo. Ed. 34, 1997.
Jacques, Berenstein Paola. A Estética da Ginga. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
Sodré, Muniz. A
Verdade Seduzida. Rio de Janeiro: Codecri, 1983.
Zorzo, Francisco Antônio. Procedimentos Visuais: Alguns
Problemas do Desenho Contemporâneo. In: Anais do Graphica 2007. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 2007.